sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O que você faz?


Outro dia fui acometido por uma pergunta estranha. “O que você faz?” Subiu-me instantaneamente à garganta e saiu como que dito por um mega-fone “Estudo.” Parei, refleti sobre o que tinha dito automaticamente e completei “Estudo o homem, este ser pelo começo, mantendo os olhos sempre abertos nesta viagem pelo avesso. Estudo a mim.” Meu amigo deu-se por satisfeito com a resposta e continuamos a andar sem direção. Ao dobramos a esquina encontramos mais dois amigos nosso.
Fomos a um bar e foram umas seis garrafas de cerveja junto com ideais neo-socialistas de salvadores da pátria. Depois foi a vez dos filmes, das mulheres, das piadas, do trabalho... e mais ou menos na metade do segundo maço de cigarros surgiu o pensamento sobre a pergunta que eu havia sido questionado horas atrás. Pausei a cena a qual estava inserido: amigos ao redor de uma mesa de bar que contavam de um cotidiano novo e surpreendente, a moça ao lado na terceira caipirinha e décima quarta mensagem ao namorado que atrasara, a garçonete no balcão que mexia no cabelo para impressionar o rapaz que estava sentado e desacompanhado, o cachorro na calçada a procurar comida juntamente com seu dono e a claridade natural do dia dando espaço ã majestosa noite de verão. Foi então que me dei conta do quão razoável tinha sido minha resposta.
Apertei o play, chamei meu amigo e disse sentindo o sabor que cada palavra tinha. “O que eu faço é viver, e, apesar das cervejas e da nicotina ingratas, tenho vivido da maneira mais saudável que pode existir e o porquê disso é pelo amor que tenho à minha vida e a gratidão que tenho por quem a me deu.” E seguimos rindo nas conversas delinquentes e famigeradas que foram surgindo naquela ponta de mundo.

2 comentários:

  1. Incrível, algumas pessoas escrevem, outras tem o dom de se expressar com perfeição dentro das palavras.

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  2. E pensar que tem gente tão sem vida por aí.
    Encantei no texto!

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